A sustentabilidade, ou não, do presidente Michel Temer, depois do pior momento do seu governo, como ele próprio classifica, vai depender, pelo visto, do termômetro das ruas.
Por dois motivos.
A gravação que flagrou Temer em conversa pouco republicana na residência oficial do Governo é menos demolidora do que se esperava, tão logo saiu a notícia do “aval” do presidente ao silêncio de Cunha.
A base política, que inicialmente ameaçou desembarcar, segurou a onda depois do pronunciamento do presidente e preferiu aguardar o conteúdo da gravação. Até agora só os nanicos PPS e PTN caíram fora.
O presidente diz estar confiante de que consegue reverter o desgaste das revelações. Embora seja difícil explicar que seu indicado interlocutor de “confiança”, o deputado Rocha Loures, recebeu R$ 500 mil do dono do JBS, posteriormente à conversa clandestina no Palácio do Jaburu.
Temer cometeu uma explícita pedalada moral. Ouviu, em silêncio, e até com reações de aprovação, um longo relato de crimes e até de confissão de compra de juízes e procuradores. Como em nada se opôs a tentativa de intromissão na política monetária e de juros de Henrique Meireles, ministro da Fazenda.
O presidente só assim procedeu, infere-se, porque estava diante de alguém a quem o Governo, o PMDB, ou ele próprio, deve muitos favores e conivência.
Não é isso que o Brasil espera de um presidente, nem na intimidade da conversa privada. Não é isso que o País que derrubou Dilma, exatamente pelo conjunto da obra de desmantelo e corrupção, aguarda de quem sobrou para tocar para frente o que restou da Nação.
Mas até aí, Temer escapa, como prevê, se tiver capacidade política de manter os partidos aliados na sua sustentação. Coisa que Dilma não conseguiu, com um agravante contra: as massas, em grande contingente, pediam seu afastamento.
Com Temer não é diferente. O movimento popular, e seu volume, será determinante para definir seu destino, seriamente abalado, desde que permitiu a entrada de Joesley Batista, armado com seu gravador no bolso, na sua sala de estar e deixou que todo o esforço para se reconstruir o Brasil fosse “colocado na lata do lixo”.