Deus sabe todas as coisas. Quando perdi muito cedo contato e depois a vivência total com meu pai, a providência já havia sido derramada do céu.
De compensação, cresci sob os cuidados, amor e ensinamentos de duas mulheres.
Genitora e avó se confundiram nos seus papéis e tive mãe em dose dupla na infância e adolescência.
Cada qual com seu jeito, suas palavras e temperamentos.
Uma somava a outra e completava em mim o que precisava para conhecer e viver o caminho certo.
Nunca tive um motivo para enveredar pela rebeldia, pela revolta da ausência paterna ou coisa do tipo.
Desabrochei para a vida encharcado de carinho e na minha casa, na rua Ana Rocha número 18, o amor batia ponto todos os dias.
Se ia dormir no balanço da rede de Marizete (mainha) entoando o Padre Zezinho até o sono chegar, acordava com o café e a benção de dona Nuita (mãe).
As duas se revezaram para doutrinar a mim e a meu irmão, Hernon.
Uma fazendo as vezes de homem da casa, indo à labuta no meio do mundo, ganhando o pão nosso de cada dia.
A outra transformando sustento em alimento, com tempero e sabor de cuidados e aconchego.
O tempo passou e até hoje nada faz esquecer o gosto do caldo da carne guisada na batatinha de dona Nuita.
Muito menos a chegada de Marizete em casa, trazendo a feira que fazia nossa alegria de menino brilhar diante da fartura…
Anos mais tarde, a vida se renova e entendo o projeto de Deus.
As ausências do destino não me condenaram a ser distante das minhas crias, em que pese circunstâncias fora dos planos.
A falta que se fez foi superada pela abundância dos depósitos de amor e atenção providas pelas mulheres que Deus me presenteou.
Na suas respectivas simplicidades e sem nada dizer sobre, as duas mães me ensinaram a ser pai, sendo elas o que eu não tive.