O pipoco da girândola acordava todos e deixava a cidade ouriçada antes do raiar do sol. Menino, pulava da cama para ouvir os estampidos seguidos dos serviços de alto falantes já ligados e o carro de som serpenteando as ruas, tocando dobrados e anunciando o grande dia.
Mais tarde, autoridades reunidas, bandeiras hasteadas, inaugurações de obras públicas e uma banda marcial deixando a gente toda de boca aberta, nas calçadas e esquinas. À noite, um show para reunir jovens, adultos, moços e velhos no coroamento da celebração de emancipação política.
Moleque andando de pés descalços, assisti e testemunhei o plebiscito, a luta de muitos pelo convencimento da hora de libertação, idosos sendo levados de cadeiras de rodas para as seções de votação e, por fim, o decreto estadual que transformou o distrito acanhado num município autônomo e promissor.
Vi as primeiras candidaturas, os primeiros comícios, a primeira eleição. Não só isso. Ainda na tenra idade, admirava as caminhadas, os discursos. Tanto que participei, de forma modesta, compondo (olha o atrevimento) uma das músicas de campanha. Estímulo que vinha de casa, da mãe, Marizete, de sangue político nas veias, tempos depois vereadora.
De lá pra cá, Marizópolis, a república do meu coração que hoje aniversaria 23 anos de emancipação, mudou muito, cresceu e se desenvolveu. Mas, cá dentro deste peito, continua sendo o centro do meu universo, guia dos meus dias, inspiração primeira da minha vida, fonte de força e fé, paisagem que enche meus olhos de lembranças do passado e sonhos de futuro.