De nada servirá toda a erupção da Lava Jato na política brasileira se essa turbulência vulcânica não produzir profundas mudanças no sistema vigente.
Antes dos efeitos da operação e da crise que culminou com o impeachment, o Brasil sinalizava nas ruas pelo esgotamento do atual modelo.
Nesse ponto, compartilho com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em texto publicado em janeiro de 2015 e mais tarde reunido entre outros artigos no seu livro A Miséria da Política.
No começo daquele conturbado ano, FHC defendia a cláusula de barreira, proibição das coligações proporcionais e restrição ao marketing político, retirando os programas eleitorais e privilegiando os debates entre candidatos.
Ainda uma reflexão mais acurada para desembocar no sistema distrital misto de voto.
Medidas que reduziriam a prostituição partidária e alto custo de campanha, raiz dos esquemas na estrutura governamental.
Entretanto, falta legitimidade e confiança popular a um Congresso com praticamente todos os partidos envolvidos e investigados em delitos.
Aí entra acertada sugestão do então deputado federal Leonardo Gadelha, autor de proposta de uma constituinte específica, formulada por atores sociais escolhidos para tal mister, despidos dos vícios e interesses diretos da atividade política.
Algo semelhante ao que, quando presidente, Lula da Silva defendeu, mas não conseguiu tirar da retórica para a realidade.
Depois dessa tempestade, o Brasil – no fundo do poço – tem que ter maturidade e responsabilidade de parir para gerações futuras alguma bonança.