Léo x Lula. Por Ricardo Noblat – Heron Cid
Bastidores

Léo x Lula. Por Ricardo Noblat

21 de abril de 2017 às 11h08 Por Heron Cid

Porque ninguém lhe perguntou, o empresário Léo Pinheiro, sócio da construtora OAS, deixou para esclarecer em outra ocasião se obedeceu à ordem de Lula de destruir eventuais provas que tivesse sobre o pagamento de propinas ao PT.
Era do valor total das propinas que ele descontaria o preço do tríplex do Guarujá, em São Paulo, que Lula insiste em dizer que jamais foi seu. Léo afirma que era.

Foi esse justamente o momento mais tenso da fala do empresário, ontem, diante do juiz Sérgio Moro, em Curitiba. Preso pela Lava Jato desde setembro do ano passado, condenado há mais de 19 anos de cadeia, Léo contou que entre abril e maio de 2014 foi chamado por Lula para uma conversa na sede do Instituto Lula, na capital paulista.
Segundo ele, Lula estava bastante irritado, e este foi o diálogo travado entre eles:
– Léo, o senhor fez algum pagamento a João Vaccari no exterior?’
– Não, presidente, nunca fiz pagamento a essas contas que nós temos com Vaccari no exterior.

– Como você está procedendo os pagamentos para o PT?

– Estou fazendo os pagamentos através de orientações do Vaccari de caixa 2, de doações diversas que nós fizemos a diretórios e tal.

– Você tem algum registro de algum encontro de contas feitas com João Vaccari com vocês? Se tiver, destrua – ordenou Lula.

João Vaccari, na época, era tesoureiro do PT. Está preso em Curitiba. Moro não teve a curiosidade de perguntar a Léo se ele fez o que Lula mandou. Talvez tenha preferido deixar a pergunta para mais tarde. O advogado de Lula também não perguntou. Se o fizesse poderia passar a impressão de que atestava a veracidade do diálogo.
Léo negocia com Ministério Público uma delação premiada. Esse pode ser um dos seus trunfos.

Ao que tudo indica, Léo não destruiu os registros. Primeiro porque é um homem meticuloso que guarda suas anotações. Depois porque, a certa altura do seu depoimento, disse assim: “Eu tive um encontro com o ex-presidente, em junho (de 2014), tenho isso anotado na agenda, são vários encontros…” E reproduziu outra frase de Lula: “Se você costuma ficar anotando documento, é melhor que você não participe de nada”.

Léo foi ouvido no processo a que Lula responde por ocultação de patrimônio e corrupção no caso do tríplex. Voltará a ser ouvido em outro processo – o que apura a verdadeira história por trás da compra do sítio de Atibaia, também em São Paulo, que Lula jura não ser o dono. Sobre o tríplex, Lula irá depor a Moro no próximo dia 3. O cerco em torno de Lula só faz se estreitar. Antes possível, sua condenação tornou-se provável.

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