Minhas mães (A Crônica de Domingo) – Heron Cid
Crônicas

Minhas mães (A Crônica de Domingo)

8 de maio de 2022 às 17h49

Uma é o paraíso. Duas é o céu na terra. Vim ao mundo só uma vez e tive duas mães. “Que sorte a minha”, ein Vanessa da Mata? Sorte nada, providência divina mesmo!

Marizete me pariu e me amou. Até hoje, como sempre. Sem me parir, Dona Nuita fez o que toda vó faz; adotou o neto para filho até nosso adeus num aperto de mão no leito de UTI.

Ambas na mesma residência na Rua Ana Rocha, número 18, de Marizópolis. Incansáveis provedoras de alimento para o corpo e afeto para a alma.

Amanhecia com mainha (Marizete) saindo de casa antes do sol dizer bom dia para ganhar a vida e o pão dos dois filhos.

Anoitecia com a cuscuzeira de dona Nuita fumegando no fogão a lenha e convidando para o jantar com os sabores daqueles nossos tempos.

Uma segurando a mão da outra, ombro na hora da fraqueza e da falta. Mulheres separadas dos maridos, mães agarradas às crias.

Escudeiras dos filhos-netos, esporões a nos botar para frente, baraúnas a sustentar o teto e a dispensa que teimava em ficar vazia antes do fim de mês..

Enquanto uma andava pelas ruas vendendo Avon, a outra dava conta dos afazeres domésticos. Nunca ouvi nenhuma reclamar do peso da jornada ou da vida sem o “dono” da casa.

E eu só via e sentia amor. Só sinto orgulho. Só sentirei saudades. Das duas que sempre serão uma. Uma fortaleza dentro de mim.

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