O que não foi ao ar: os bastidores da entrevista de Sergio Moro – Heron Cid
Bastidores

O que não foi ao ar: os bastidores da entrevista de Sergio Moro

9 de janeiro de 2022 às 13h10

Pontualmente às 9h, horário combinado, o ex-ministro Sergio Moro abriu britanicamente a porta da sala reservada para a sua primeira entrevista na manhã dessa sexta-feira (6). Outras duas estavam a caminho em João Pessoa, além de contatos políticos e no fim do dia uma festa de aniversário.

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No escritório do deputado federal Julian Lemos, anfitrião da agenda do candidato a presidente da República, ambiente espaçoso e propício para a gravação. Ao lado do amigo Luis Felipe Cunha, que o acompanha e assessora, Moro entrou de bom humor, sereno e receptivo.

Cumprimentou os assessores que já o aguardavam e a equipe já preparada para a entrevista. Ao entrevistador, o ex-juiz da Lava Jato se dirigiu com fidalguia e quebrou o gelo ao dizer que já tinha informações e referências profissionais. Brincou, riu e provocado pelo autor do Blog contou o episódio de sua primeira visita a João Pessoa, em lua de mel, 22 anos atrás.

Concentrado no compromisso, Moro não tocou no buffet especialmente preparado para recebê-lo naquele começo de manhã. E não por falta de variedade e fartura. A mesa atendeu as exigências de Julian Lemos e tinha de tudo para um café da manhã reforçado. O ex-magistrado já havia feito refeição no hotel de sua hospedagem e parecia com fome de dar conta da intensa agenda.

Da assessoria de imprensa, veio a informação. Logo mais às 10h, havia outra entrevista. Por telefone, Moro falaria à Rádio Jornal de Caruaru (PE).

Ficou o impasse se o tempo atenderia as duas conversas agendadas. O próprio Sergio sugeriu em tom de pedido: poderia interromper a conversa antes das 10h, falaria aos pernambucanos e voltaria para concluir a gravação. Foi a providência decidida consensualmente para atender a dupla demanda dentro do horário exíguo.

Na primeira parte da entrevista, com temas softs, Moro ficou mais à vontade para falar, por exemplo, da bucólica viagem à Paraiba, duas décadas atrás, da vida reservada e agora mais exposta, de como conseguiu amenizar as pressões e ameaças no cotidiano dos dois filhos, de impressões e projetos para o Nordeste, propostas para o Brasil e até do final tumultuado de sua participação no governo Bolsonaro.

Na segunda etapa, depois da pausa para falar em modo remoto à emissora do agreste de Pernambuco, os temas foram mais áridos e espinhosos.

Entre eles, o questionamento sobre o recuo do que havia dito e repetido sobre o interesse em candidatura e especialmente a decisão do Tribunal de Contas da União que quer saber quanto a empresa Alvarez & Marsal pagou pelo contrato de consultoria em compliance. A multinacional também presta serviços a Odebrecht, implicada fatalmente na Lava Jato.

Foi o momento mais tenso do diálog. Moro mudou o semblante e o tom. Mas, foi firme na resposta. Tratou o tema inicialmente como bobagem sem deixar de explicar didaticamente sua missão e cláusulas do serviço contratado, assegurando que o trabalho não lhe desautoriza eticamente.

E usou um argumento convincente: nunca defendeu acusados de corrupção e nas decisões, o então juiz não beneficiou a Odebrecht para justificar qualquer compensação ou prêmio. Pelo contrário. A empresa e a cúpula dela fora condenada severamente. E a consultoria à Alvarez & Marsal, que presta serviços no mundo inteiro, tinha o objetivo de criar sistemas de blindagem para evitar a política de subornos nas empresas, constatados sobejamente na Lava Jato.

Depois dessa pergunta, ficou no ar a subliminar deixa para o fim da entrevista. Pelo caminho do diálogo e pelas agendas a seguir. Em determinado momento, o próprio Moro sugeriu que precisava concluir. Mais duas ou três perguntas foram feitas. E os agradecimentos finais também.

Nos preparativos da entrevista, Moro fez questão de falar com todos. De cinegrafistas a garçons. No final, a mesma coisa. Apesar do avançado da hora, o ex-ministro se deixou fotografar com quem solicitou registro.

Ao ser abordado para novos agradecimentos, também agradeceu pela entrevista. A chefe do buffet ofereceu mais uma vez o sortido lanche de quiches, bolos, saladas, sucos… Moro pediu desculpas, pegou apenas uma água mineral e seguiu a agenda com seu staff. O candidato tinha pressa!

*Créditos de fotos: Aloisio Abrantes e Wendell Targino

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