No cenário que bota medo, Pedro toma coragem – Heron Cid
Opinião

No cenário que bota medo, Pedro toma coragem

20 de dezembro de 2021 às 20h42
Inserção do jovem tucano na disputa demarca território do PSDB, que assume espaço em que outras forças hesitam ou declinam

Por natureza, a política é atividade de risco. Não é terreno para desprovidos de coragem ou excessivamente comedidos. Ao se posicionar oficialmente na disputa ao governo, o deputado Pedro Cunha Lima superou uma etapa crucial, a do medo, legítimo e natural para qualquer um.

Ao contrário de outros players paraibanos, Pedro tem o que perder. Se não obtiver sucesso, faltará a ele sobrevida de um mandato para chamar de seu, como podem contar, por exemplo, senadores detentores de quatro anos de gordura parlamentar. Ou simples aventureiros.

Se o desafio que o jovem parlamentar lançou-se fosse fácil, outras forças mais taludas e com maior densidade eleitoral teriam segurado as rodilhas. Pelo contrário, nomes consagrados, como Veneziano Vital, hesitam, outros, donos de maior projeção, como o ex-prefeito Romero Rodrigues, pragmaticamente desistem.

A coragem, já provada, não basta. O deputado terá muito mais a vencer além do frio na barriga e o exercício do desprendimento. No horizonte, a tarefa de sensibilizar e cativar um eleitor ressabiado com propostas revolucionárias e desconfiado de grandes promessas.

Especialmente, porque, cada vez que inovar no discurso, enfrentará nos olhos do público enorme retrovisor para comparação entre o que prega neste presente instante e o que seu partido e até seu pai (o ex-governador Cássio Cunha Lima) fizeram (ou deixaram de fazer) em recente passado quando pilotaram os destinos e o orçamento do Estado.

Pedro será candidato de uma fragilizada e fragmentada oposição. Para constatação, basta fazer contas. A bancada oposicionista na Assembleia não passa de dez parlamentares. E é ainda menor o número que atende a orientação do PSDB. Na base, o partido perdeu influência e prefeitos. Enquanto o governador João Azevêdo, seu principal adversário, fortaleceu sua estrutura política e favoritismo eleitoral.

Entre os desafios, a transição do discurso do parlamentar, sua mais aparente vocação e apetite, para o homem que se propõe a chefiar o Executivo, com as históricas complexidades paraibanas. Da tribuna da Câmara, onde cabe quase tudo, para o terreno real das pressões das corporações, das demandas do cidadão, do orçamento apertado, são tons e abordagens diferentes a serem calibradas.

O recém-lançado candidato tem dez meses para desfiar essas tarefas e se fazer competitivo frente às conhecidas adversidades. Ele se diz pronto e motivado. Bom começo para quem se propõe a uma dura e cansativa jornada. No cenário em que até agora só existia certa mesmo a candidatura à reeleição do governador, o PSDB anuncia em Pedro a pedra sobre a qual quer edificar sua posição. E a oposição.

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