Última edição Diário do Nordeste: "A dor que vai virar posteridade" (por Magno Martins) – Heron Cid
Opinião

Última edição Diário do Nordeste: “A dor que vai virar posteridade” (por Magno Martins)

27 de fevereiro de 2021 às 13h00 Por Heron Cid

Compartilho texto publicado hoje pelo jornalista Magno Martins, em seu Blog, sobre a última edição do Diário do Nordeste, do Ceará.

Um depoimento emocionado de um veterano que nasceu da placenta do jornal impresso e fez bem sucedida travessia para o digital.

Logo abaixo, a palavra é de Magno:

Esta foto, enviada, há pouco, pelo meu amigo Donizete Arruda, craque da Imprensa cearense, tocou profundamente o meu coração, rasgou minha alma por dentro e por fora. Vai entrar para a história da mídia brasileira: mostra jornalistas exibindo a última edição impressa do Diário do Nordeste, o maior jornal do Ceará, que a partir da segunda-feira, 1°, vira 100% digital.

Embora pioneiro no Nordeste na ferramenta digital do jornalismo, sou filho do papel. E por isso, choro. Aprendi a fazer notícias e gerar manchetes, logo cedo, imberbe, num papel exalando cheiro de tinta. Meu ouvido ficou viciado no barulho das rotativas impressoras. O jornal foi companheiro de todas as horas, começando pelo café da manhã.

Joaquim Nabuco dizia que atrás do jornal não vemos os escritores, compondo a sós o seu artigo. Vemos as massas que o vão ler e que, por compartilhar dessa ilusão, o repetirão como se fosse o seu próprio oráculo.

Jornais foram criados para excitar a curiosidade.

Jornal já serviu até para anunciar o amor. “Pensei em colocar um anúncio no jornal pra todo mundo ficar sabendo o quanto eu amo você”, já li num velho matutino. Eu sou como um jornal: tenho meus dias, meus meses, meus anos, sejam eles bons ou ruins.

Trago sempre comigo notícias, sejam elas de inverno ou jardim. Anuncio um mês e um ciclo, sou também preto e branco quando me dão liberdade.

Alguém me dê uma notícia que não esteja no jornal. Saudoso, compartilho da dor dos colegas cearenses. Um bom jornal é uma Nação falando consigo mesma.

Esta foto é a minha dor e de tantos companheiros estampada no jornal da história. Jornal inspirou até os poetas: A vida é vã, banalidade… É como jornal de hoje, amanhã será papel de embrulho.

A vida não é como um jornal, que pode ter uma edição do amanhã. Ler jornal, já ouvi, é o melhor remédio para se reinventar. Dou uma rápida leitura no jornal e tiro duas frases que podem me dar muitos dias de reflexão e assunto para muitos textos.

O último Diário do Nordeste é a foto drumoniana na parede. Dói muito.

Blog do Magno Martins

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