Meus tempos de atleta ruim de bola (por Magno Martins) – Heron Cid
Crônicas

Meus tempos de atleta ruim de bola (por Magno Martins)

13 de fevereiro de 2021 às 12h45

De temporada carnavalesca sem frevo em Afogados da Ingazeira, por causa da pandemia, corri, hoje, meus 6 km diários com a camisa do Afogados, a Coruja sertaneja afamada pela façanha de mandar mais cedo para o chuveiro da desclassificação o Atlético das alterosas montanhas mineiras.

Nas Minas Gerais, quando se busca o cume da montanha, não se dá importância às pedras do caminho. Por isso, o Galo não levou a sério o pedregulho Coruja e se despediu do Brasileiro derramando lágrimas no seco Rio Pajeú.

Quando adolescente, jogava bola todos os dias em Afogados da Ingazeira. Minha maior conquista como lateral raçudo, mas sem muita técnica, foi sentar no banco de reservas no Santa Cruz, do velho Ninô. O titular era Miranda, craque na acepção da palavra. Daí a razão de me eternizar na solidão angustiante do banco.

Seu Ninô era do sítio Matinha, pai de dois jogadores do time: Dedé, centroavante, e Bananeira, lateral esquerdo, um galegão cabeludo, que lembrava muito Marinho, do Botafogo do Rio, ex-seleção brasileira. Apaixonado pelo Santa, Ninô chorava quando o time perdia, especialmente se a derrota fosse para o time de Tabira, cidade que até hoje rivaliza com Afogados.

O santinha consumia todas as reservas de cruzeiro que Ninô arrecadava como caminhoneiro para manter a grande prole. Meus tempos de atleta se prolongaram no futebol de salão com a criação do Barcelona, a maior paixão de minha vida nos anos dourados. Ruim de bola, na verdade fundei o time com os melhores quadros da cidade e entreguei o comando técnico ao meu amigo Ademar Rafael, que mais tarde se revelou poeta dos bons, cronista do Sertão e compositor, uma grande figura, doce e agradável.

Quando o Barcelona perdia, o que era raro, chorávamos juntos, inconsoláveis. Tempos bons, românticos e apaixonantes que não voltam mais. Dizem que o tempo é a única esperança de quem já perdeu os sonhos. O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.

Blog do Magno Martins

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