O gol contra de Covas (por Augusto Nunes) – Heron Cid
Opinião

O gol contra de Covas (por Augusto Nunes)

1 de fevereiro de 2021 às 15h20 Por Heron Cid

Em setembro passado, o Ministério da Saúde autorizou a volta das torcidas aos estádios, limitando o espaço liberado a 30% da capacidade total. A portaria, endossada pela Confederação Brasileira de futebol, foi sumariamente rejeitada pelo governador João Doria, que manteve as arquibancadas vazias em todo o Estado. Previsivelmente, o prefeito Bruno Covas reafirmou que os torcedores da capital continuariam vendo futebol só pela TV. “ Nossa prioridade é a vida “, recitaram em dueto os governantes.

Neste sábado, o santista Bruno Covas foi visto no Maracanã, engrossando a pequena multidão aglomerada num setor das arquibancadas que viu de perto a vitória do Palmeiras na final da Libertadores de América. Convidado pela CBF, que o presenteou com dois ingressos, ele estava com o filho a 400 quilômetros de distância da cidade que administra — e das restrições impostas pelo próprio prefeito.

Antes mesmo que o jogo começasse, desabou nas redes sociais uma tempestade de críticas ao segundo ato do espetáculo da incoerência. No primeiro, encenado em dezembro, Doria fechou o Estado que governa e foi passear em Miami, que não sabe o que é quarentena. Agora, o prefeito que há um ano interditou as arquibancadas paulistanas apareceu no Rio no meio de quase 3.000 torcedores especiais. Haja farisaísmo.

Alvejado por reação idêntica, Doria decolou de volta para o Brasil poucas horas depois do pouso na Flórida e pediu desculpas pela ideia desastrada. Covas optou pela trilha à beira do penhasco. Caprichando na pose de vítima, tentou atribuir à “lacração na internet” o que qualificou de “hipocrisia generalizada”. E embarcou num palavrório de vereador no discurso de estreia: “Depois de 24 sessões de radioterapia, meus médicos recomendaram 10 dias de licença para recuperar as energias”, tentou justificar-se. “Resolvi tirar mais dias de licença não remunerada para aproveitar uns dias com o meu filho. E fomos ver a final da Libertadores, um sonho nosso”.

A discurseira não resiste a uma pergunta singela: o que faria Bruno Covas se, em vez do Maracanã, um estádio paulistano fosse sorteado para hospedar a final da Libertadores disputada por dois times brasileiros? Proibiria o evento? Só liberaria a arena se não houvesse plateia? Ou faria o que fez no sábado? Seja qual for a resposta, está claro que o prefeito acha lockdown uma coisa muito boa, mas para os outros.

R7

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