Tiririca para quem precisa (por Guilherme Fiúza) – Heron Cid
Bastidores

Tiririca para quem precisa (por Guilherme Fiúza)

9 de julho de 2019 às 13h00
Conversa entre dois guardiões da democracia:— Viu que a reforma da Previdência foi aprovada na Comissão Especial?

— Vi. Que mer… Quer dizer, que ótimo.

— Pois é. O Brasil talvez consiga avançar apesar desse governo.

— Usina de crises…

— Nem fala. O Rogério Marinho, negociador da reforma, teve que dar nó em pingo d’água.

— O cara é bom.

— Nem parece que é do governo.

— Pra mim nem é.

— Bom, ele é secretário especial do Ministério da Economia.

— E daí? Qualquer um podia ter posto ele lá.

— Verdade. O Paulo Guedes também, qualquer um podia ter posto…

— Posto Ipiranga.

— Isso! Tava ali no caminho, cheio de combustível, burrice seria passar direto.

— Claro, era o óbvio. Mas o Paulo Guedes tá desanimado.

— Muito. Nem disfarça mais.

— Disse que o Bolsonaro é um cara de bons propósitos e foi aplaudido de pé quase cinco minutos por centenas de pessoas… Um teatro desses é o sinal claro do desespero.

— Não engana ninguém.

— E o Paulo Guedes também não é isso tudo não.

— Nada! Nervosinho, briga com todo mundo.

— Mimado. O Rodrigo Maia falou pra não dar bola pra ele…

— Aí você falou de um cara que faz a diferença. Rodrigo Maia detesta gente mimada.

— Ele é o grande responsável pela reforma da Previdência.

— Eu vi na Globo News. Acho até que ele já devia ter tocado essa reforma antes, aí a gente não tava aqui falando desses fascistas.

— É mesmo. Porque será que ele não fez isso antes?

— Porra, você também faz cada pergunta… Sei lá, acho que quando a equipe do Meirelles tentou pautar a reforma ele tava muito ocupado.

— Eu lembro. Dava entrevista o dia inteiro sobre a crise.

— Se tem um cara que sabe tudo de crise é ele.

— Inclusive quando fica tudo muito calmo ele fala logo uma merda qualquer contra o governo pra dar uma sacudida.

— Exato. Ele sabe que a calmaria é perigosa. Quase sempre é prenúncio de crise.

— Um puta pacificador. Prova viva de que sem intriga não se chega à paz.

— Ele sabe muito bem que o cumprimento de todas as metas de infraestrutura em seis meses é cortina de fumaça do bolsonarismo.

— Esse Tarcísio é um fanfarrão.

— Quem é Tarcísio?

— O ministro da Infraestrutura, ué.

— Ah, claro. Fanfarrão! Trabalha 24 por 24 pra encher os transportes de investimento e enganar esse gado fascista.

— Ê, povo burro.

— Mas até que num governo democrata ele seria útil.

— É, o cara é bom. Quem botou ele lá?

— Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem fica fazendo pergunta sobre governo fascista.

— Desculpe, tem razão.

— Me desculpe você, me exaltei. Essa onda de ódio tá me tirando do sério.

— Imagina, tô num stress ferrado também. A única coisa que me acalmou nessa crise reacionária foi a entrevista do Tiririca na Folha.

— Entendo você. A sensatez é relaxante.

— Puta entrevista, puta análise. Ele captou com perfeição o lance da escalada autoritária.

— Tiririca me representa.

— Palhaço.

— Otário.

— Viva a democracia!

— Viva!

Gazeta do Povo

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