Faltando com a verdade (por Zuenir Ventura) – Heron Cid
Bastidores

Faltando com a verdade (por Zuenir Ventura)

24 de abril de 2019 às 15h00
O presidente da República, Jair Bolsonaro, durante cerimônia de apresentação de credenciais para novos diplomatas no Palácio do Planalto, em Brasília (DF) - 08/03/2019 (Adriano Machado/Reuters)

O poder, qualquer poder, de direita ou de esquerda, não se caracteriza pelo respeito à veracidade dos fatos, a não ser os que servem à própria conveniência. Mas para quem se orgulha de ter como lema as palavras do Senhor na voz do apóstolo João — “ a verdade vos libertará” — o presidente Bolsonaro anda exagerando e faltando demais com ela, a verdade. Como, porém, a mentira tem pernas curtas, ele vem sendo desmentido por quem menos espera. Isso aconteceu, por exemplo, com o ministro Onyx Lorenzoni ao informar que o presidente “deu trava na Petrobras”, ou seja, fez o que o governo negava ter feito.

Ora, todo o esforço do presidente era provar que não tinha havido ingerência sua na Petrobras para vetar o aumento de preço do óleo diesel. Bolsonaro chegou a garantir isso ao lado do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, que, claro, confirmou a inverdade. A versão mais criativa do episódio partiu do ministro da Economia, Paulo Guedes, que imaginou um Bolsonaro brincalhão dizendo para o presidente da empresa: “agora que estou comemorando meus 100 dias de governo você quer botar diesel no meu chope!”.

O que não teve qualquer graça foi a sua declaração de que o “Exército não matou ninguém”, referindo-se a outro episódio, este trágico. Comparem o que foi dito com o testemunho de uma mãe, Aparecida: “O Exército matou meu filho. Ele foi baleado quando tentava ajudar a família do músico Evaldo Rosa, que morreu quando seu carro foi atingido por 80 tiros disparados por militares do Exército”.

A última de Bolsonaro foi numa área que não é sua praia. Ele postou um vídeo sobre a revisão de patrocínios culturais da Petrobras e acabou denunciando como beneficiárias várias obras, inclusive de LGBTQI, que nunca receberam apoio da empresa. Quer dizer, uma lista mentirosa.

O Globo

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