Bettina e o golpe de 64. Por Ricardo Noblat – Heron Cid
Bastidores

Bettina e o golpe de 64. Por Ricardo Noblat

26 de março de 2019 às 10h00
Betinna (Betinna/Reprodução)

O que o infame vídeo da Bettina tem em comum com a orientação dada pelo presidente Jair Bolsonaro aos militares para que comemorem no próximo dia 31 mais um aniversário do que ele chama de Revolução Democrática de 64? Resposta: trata-se de propaganda enganosa.

Nem Bettina, funcionária da Empiricus Research, acumulou mais de 1 milhão de reais em três anos graças às indicações de compra de ações feitas pelo seu patrão, nem o movimento de 64 foi uma revolução, e muito menos democrática. Foi um golpe que deu origem a uma ditadura que se estendeu por 21 anos.

Sempre que se vê acuado por crises desatadas por ele mesmo ou por seus filhos, Bolsonaro ensaia uma manobra diversionista. A crise da vez ameaça a aprovação pelo Congresso da reforma da Previdência que Bolsonaro apoia da boca para fora. Criticado até por seus ministros, ele tentou mudar de assunto.

Se dependesse dos chefes militares, o 55º aniversário do golpe de 64 passaria em branco. Vinha sendo assim há décadas. Por que relembrar um período durante o qual 434 pessoas foram mortas pelo regime ou desapareceram? Somente 33 corpos foram localizados. Muitos foram incinerados ou jogados no mar.

Somente no Rio de Janeiro, entre 1964 e 1966 segundo a Comissão Nacional da Verdade, houve ao menos 371 casos de tortura. Os torturadores eram, em sua grande maioria, militares das forças armadas, em especial do Exército. Os centros de tortura funcionavam em dependências militares.

Enquanto durou a ditadura, os brasileiros foram impedidos de votar para presidente da República. O Congresso foi fechado mais de uma vez, mandatos foram cassados e a imprensa censurada. No seu período mais tenebroso, a ditadura suspendeu todos os direitos, inclusive as prerrogativas dos magistrados.

Portanto, comemorar o quê? E por quê? Porque Bolsonaro, disse seu porta-voz, “não considera 31 de março de 1964 um golpe militar. Ele considera que a sociedade, reunida e percebendo o perigo que o país estava vivenciando naquele momento, juntou-se”. Juntos, civis e militares salvarem o país do comunismo.

Mortos e desaparecidos? Para Bolsonaro, pessoas morrem e desaparecem durante uma guerra. Tortura? Às vezes “medidas mais enérgicas” são adotadas para se evitar o pior. Bolsonaro já exaltou a memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o único militar condenado pela Justiça por prática de tortura.

Seja feita a vontade de Bolsonaro. Entidades civis se preparam para promover manifestações de repúdio ao que aconteceu em 64. Está marcada uma caminhada silenciosa na capital paulista. Ditadura, nunca mais. Tortura, nunca mais.

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