Mora na (vã) filosofia. Por Dora Kramer – Heron Cid
Bastidores

Mora na (vã) filosofia. Por Dora Kramer

24 de março de 2019 às 11h00
Olavo de Carvalho | Divulgação

Olavo de Carvalho vive dias de intensa glória. Convém que os aproveite, pois serão breves. O assim intitulado filósofo com a eclética trajetória de astrólogo, escritor, mentor de alunos de cursos a distância, líder de esquadra armada por insultos na internet e eminência nada pálida do atual governo não conhece os códigos do poder.

O mais básico deles reza que a exposição excessiva senta praça na antessala do ostracismo. Outro ensina que, quando se ultrapassam certos limites, cedo ou tarde dia de muito se traduz em véspera de nada. Antigos poderosos hoje privados de voz e até da liberdade são testemunhas de que o que extrapola não raro prejudica.

Um terceiro item do manual do poder mostra que a capacidade de criar atritos é diretamente proporcional à produção de inimigos interessados na queda de prestígio e/ou influência do autor. Dele decorre uma quarta cláusula: o elogio do adversário é sinal de alerta e indicativo de risco. Ainda mais se você está mais longe do alvo que o inimigo.

Olavo de Carvalho opera da Virgínia (EUA) via Twitter, enquanto seus mais recentes alvos atuam no Planalto: Hamilton Mourão, no escritório da Vice-Presidência localizado no anexo do palácio, e Augusto Heleno, ministro de Segurança Institucional, no andar de cima do gabinete presidencial. Ambos física e conceitualmente próximos do chefe da Secretaria de Governo da Presidência, Carlos Alberto Santos Cruz, e do porta-voz Otávio do Rêgo Barros, todos eles generais e tachados por Olavo de Carvalho de “militares com mentalidade golpista”.

Na visita de Estado aos Estados Unidos o dito guru recebeu elogios explícitos do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes. Foi também tratado com gentileza por Heleno e Rêgo Barros, a despeito dos insultos. Formalidades. No cenário em que atuam as forças responsáveis pela correção de rumos (vale dizer, com o apoio dos políticos incrustados nos postos de comando do Parlamento), a realidade é outra bem diferente.

Sabe o leitor aquela história do técnico de futebol “prestigiado” às vésperas do desprestígio fatal? Pois então, pode enquadrar aí as loas a Olavo de Carvalho e respectiva influência de vida curta. Vítima do desconhecimento dos códigos do poder.

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