Olavo, a estrela que brilha em Washington. Por Ricardo Noblat – Heron Cid
Bastidores

Olavo, a estrela que brilha em Washington. Por Ricardo Noblat

18 de março de 2019 às 09h45
Foto do jantar na embaixada brasileira em Washington D.C. compartilhada por Jair Bolsonaro no Twitter (Reprodução/Twitter)

Para não apagar o protagonismo do presidente Bolsonaro em sua viagem aos Estados Unidos seria melhor que o autodeclarado filósofo Olavo de Carvalho saísse de cena hoje e amanhã.

Porque foi ele quem brilhou no primeiro compromisso que Bolsonaro teve em Washington – um jantar oferecido à comitiva presidencial pelo embaixador Sérgio Amaral, de mudança de lá.

Ficou em segredo até a madrugada de hoje o que Olavo fez ou deixou de fazer durante o jantar para que seu brilho fosse admitido pelos comensais — entre eles, o ministro da Justiça, Sergio Moro.

A imprensa não foi convidada para o jantar. Fotos da ocasião foram distribuídas pelo governo brasileiro. E migalhas do que ocorreu ali, pelo porta-voz da presidência da República.

Bolsonaro levantou um brinde a Olavo, mentor intelectual da família Bolsonaro e de parte do governo. E o ministro da Economia, Paulo Guedes, o apontou como “líder da revolução” liberal no Brasil.

Num surto de falsa modéstia, Olavo anunciara que iria ao jantar só “para comer”. Empanturrou-se de elogios, cortesias, reverências, e tudo mais o que o dicionário possa oferecer como sinônimos.

A véspera em Washington já fora dele, homenageado por expoentes da extrema-direita local com a exibição de um filme de louvaminhas a seu respeito. Olavo não perdeu a oportunidade.

Previu o futuro do governo Bolsonaro: “Se tudo continuar como está, já está mal. Não precisa mudar nada para ficar mal. É só continuar assim. Mais seis meses, acabou”.

Disse que Bolsonaro virou “uma camisinha” usada pelos militares que querem “restaurar o regime de 1964 sob um aspecto democrático. Se não é um golpe, é uma mentalidade golpista”.

Lembrou que só teve dois contatos com o professor Ricardo Vélez Rodriguez, indicado por ele para ministro da Educação. O segundo contato foi para manda-lo “enfiar o ministério no …”.

E, por fim, revelou seu grande desejo: “Eu quero mudar o destino da cultura brasileira por décadas ou séculos à frente. Estou tentando formar uma geração de intelectuais sérios”.

Encantado com as palavras de Olavo, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o novo presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, confessou: “Sem Olavo, não haveria eleição de Jair Bolsonaro”.

Coube ao ex-subsecretário para Assuntos Políticos dos Estados Unidos Thomas Shannon o comentário mordaz: “Nunca havia visto uma visita presidencial começar com um filósofo”.

Na verdade, Washington ainda não viu nada. A visita de mais um presidente brasileiro aos Estados Unidos — e logo de quem? — está mal começando. Promete.

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