Prisões na Vale. Por Reinaldo Azevedo – Heron Cid
Bastidores

Prisões na Vale. Por Reinaldo Azevedo

30 de janeiro de 2019 às 13h00

Faz sentido a decretação da prisão temporária de cinco pessoas, suspeitas de atuação criminosa no caso do rompimento da barragem de Brumadinho? Leia a íntegra da decisão da juíza Perla Saliba Brito, a pedido do Ministério Público de Minas.

Que alguma coisa, quando menos, fugiu ao controle e à análise técnica na barragem que se rompeu, disso não há a menor dúvida. Sem laudo, perícia ou acusação de crimes contra ninguém, dá para afirmar de saída: as barragens com alteamento a montante são as mais inseguras, dadas as três formas de construir esse troço: as outras duas são “a jusante” e pelo “Linha de centro”. Pesquise a respeito. A esmagadora maioria das 790 barragens de rejeitos minerais que há no Brasil são construídas “a montante”. Constituem, atestam todos os estudos, um risco por si.

Adicione-se a isso um erro que pode ser chamado de histórico: haver pessoas — casas, povoados, cidades ou empreendimento empresarial — na rota da lama em caso de rompimento da barragem. Assim era em Mariana; pior ainda em Brumadinho. E assim é, fiquem certos, em todos os lugares em que existem essas barragens. Seria preciso estabelecer uma área de segurança. Consertar o que começou errado — seja a extinção das barragens menos seguras, seja o deslocamento das pessoas — tem um custo astronômico. Mas tem de ser feito.

Então ficamos assim: há uma teia de impropriedades ali — e não só ali. Há uma teia de impropriedades no setor, a começar do Estado ausente. Em todo o país, são 154 as pessoas encarregadas de verificar a segurança de 24 mil barragens. O poder público não está aparelhado para fazer o seu trabalho, daí que a fiscalização fique a cargo, na verdade, das próprias empresas.

Os presos desta terça são André Jum Yassuda, Makoto Mamba, César Augusto Paulino Grandchamp, Ricardo de Oliveira e Rodrigo Arthur Gomes de Melo. Os dois primeiros moram em São Paulo e são engenheiros da Tüv Süd Brasil, que faz o laudo atestando a segurança da barragem. Os outros três são funcionários da Vale. É preciso tomar cuidado para que não se destrua a vida de cinco profissionais porque, afinal, a sociedade e os dias que vivemos pedem a todo tempo bodes expiatórios. Já há centenas de mortos.

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