Os bilhões que Bolsonaro terá que cortar. Por Reinaldo Azevedo – Heron Cid
Bastidores

Os bilhões que Bolsonaro terá que cortar. Por Reinaldo Azevedo

21 de novembro de 2018 às 11h00
Foto: Marcelo Theobald/Agência O Globo/11-10-2018

No Estadão. Comento em seguida:
O governo de Jair Bolsonaro terá de cortar R$ 37,2 bilhões em despesas por ano até o fim do mandato para não descumprir a regra do teto de gastos, que proíbe que eles cresçam em ritmo superior à inflação.

Em quatro anos, será necessário reduzir em R$ 148,8 bilhões as despesas primárias (que excluem o pagamento com juros) – o equivalente a um corte anual de 0,5 ponto porcentual do Produto Interno Bruto (PIB).

Os números já foram discutidos pela equipe econômica atual com o time de Bolsonaro, que já prometeu cortar despesas para zerar o déficit das contas públicas sem aumento de impostos. Em 2019, está previsto mais um déficit fiscal, que, se confirmado, será o sexto consecutivo.

Segundo apurou o Estadão/ Broadcast, a equipe econômica de Bolsonaro pretende reduzir despesas diminuindo gastos com subsídios e garantindo a aprovação da reforma da Previdência em 2019, que teria efeito nos três anos seguintes.

Também será preciso conter os reajustes salariais dos servidores e revisar a política de correção do salário mínimo a partir de 2020. Uma das propostas que estão sendo discutidas é alterar a regra de reajuste – hoje com base na inflação mais o crescimento do PIB de dois anos atrás – pela correção apenas do índice inflacionário do ano anterior.

Para melhorar a gestão orçamentária, o novo governo também pretende apresentar uma proposta para desvincular receitas de despesas, um dos maiores problemas na gestão do Orçamento.

O crescimento da economia e o aumento das receitas podem ajudar no resultado das contas públicas na direção do superávit, mas não resolvem o problema da regra do teto de gastos. Na avaliação da atual equipe, se a reforma da Previdência for aprovada no ano que vem e o déficit cair como o esperado, a “lua de mel” com o mercado vai se prolongar.
(…)
Comento
Não é uma tarefa trivial. Vamos ver:
– corte de subsídios;
– reforma da Previdência;
– conter reajuste der servidores;
– rever regra de reajuste do salário mínimo;
– desvinculação de verbas do Orçamento…

Não há uma só medida, dessas elencadas acima, que levem grupos específicos a pular de alegria. Ao contrário. Haverá tremor e ranger de dentes de tubarões (subsídios), peixes médios (servidores) e pequenos (salário mínimo). No caso da reforma da Previdência, o descontentamento pode ser de amplo espectro. Vá lá, me corrijo um tanto: os mercados vão aplaudir.

Em compensação, dirão alguns, isso tudo vai facilitar os investimentos. É verdade. Até que virem emprego e crescimento, no entanto, demora um certo tempo. É inegável que Bolsonaro chega ao poder com um capital político imenso. Mas as esperanças e expectativas são grandes justamente porque muita gente espera uma melhora relativamente rápida em sua própria vida, o que não vai acontecer. E, antes de melhorar, pode piorar um pouco. Bolsonaro terá de saber conversar com seu eleitorado e vai cumprir expectativas, a ser assim, do eleitorado que não é seu — no caso, as expectativas negativas.

É bem verdade que teremos Sérgio Moro caçando corruptos e bandidos. E o próprio presidente promete manter a agenda dos costumes e do combate ao comunismo bastante animada. Certamente vai animar seu público na Internet, mas é duvidoso que consiga seduzir os que votaram nele não por ideologia, mas movidos por expectativas de mais curto prazo.

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