Não se arranca algo do Congresso na base da ‘prensa’. Por Reinaldo Azevedo – Heron Cid
Bastidores

Não se arranca algo do Congresso na base da ‘prensa’. Por Reinaldo Azevedo

7 de novembro de 2018 às 10h00

Sei lá como os historiadores — sem partido, claro!, se é que me entendem… — vão contar no futuro essa história. Não deixa de ser engraçado ver o esforço algo desesperado de parte dos auxiliares de Jair Bolsonaro, Paulo Guedes em particular, para apoiar “alguma coisa” na área de reforma da Previdência. Mas que coisa é essa? Não se sabe.

Guedes teve uma ideia — mais uma!; é uma verdadeira usina delas — para fazer a coisa avançar: dar uma “prensa” no Congresso.

Boa!

Prensa com quê? Com quais instrumentos? Não está claro!

É bom lembrar que a dita reforma só não prosperou porque Rodrigo Janot — ou, se quiserem, a Lava Jato — tentou depor o presidente Michel Temer duas vezes. E com o apoio dos bolsonaristas, que foram às ruas gritar “Fora Temer”. Claro, eu sei: Bolsonaro queria se eleger, e parte daquela súcia de moralistas vai compor, a partir do ano que vem, o novo Congresso. Vamos ver como vai colocar seu comportamento ilibado a serviço daquilo que Cabo Daciolo chama “nação brasileira”.

Dar uma prensa no Congresso, é?

Só se for com tanques, mas, segundo sei, estes não estão dispostos a substituir um trabalho que cabe à articulação política. O futuro governo estará coalhado de militares da reserva. Não podem convocar uma divisão de blindados para cercar a Câmara e o Senado…

Bolsonaro deixou claro reiteradas vezes que todos os que o antecederam se perderam no toma-lá-dá-cá. Com ele, diz, será diferente. Isso, entende-se, vale a partir da nova legislatura. Assim, uma eventual reforma da Previdência que fique a cargo do futuro Congresso será arrancada na base do gogó e da força moral. Ou será da “prensa”?

No caso de se tentar aprovar o texto agora, vai se estabelecer o diálogo com o Congresso a partir de quais premissas?

A propósito: qual é a proposta de Bolsonaro para a área? Em entrevista concedida anteontem, o próprio presidente eleito afirmou que não está convencido das propostas de seu Posto Ipiranga.

Que se constate: só mesmo um misto de inexperiência política e arrogância pode levar alguém a achar que, nos estertores de uma legislatura, uma reforma da Previdência passa na base do berro.

Pra começo de conversa, seria preciso saber aonde Bolsonaro quer chegar para ver se consegue arrastar outros consigo.